quarta-feira, 1 de julho de 2015

Idioma cardíaco


Meu coração pode falar melhor que eu mesma
porque sua linguagem é a pura linguagem da alma
E quão poucos entendem esta linguagem!
Isto é uma pena.
E ele fala com gestos que obrigam meus braços se moverem
para abraçarem a esperança de ver seu sorriso ou sentir o calor do seu hálito.
isto parece piegas ou antiquado
mas é uma verdade.

O idioma cardíaco poucos entendem
até mesmo o cérebro-comandante fica atordoado
é um conflito muito íntimo
que extrapola causando muitos embaraços:
onde os bons intérpretes?
porque os erros de tradução?
quando acontecerá uma bela grafia?

Oh deuses do amor! Sejam solidários conosco
não permitam que caiamos nas valas do escândalo
que é o desentendimento e a falsa interpretação.

É assim que clamam os desiludidos com a dor.

Porque o coração fala também pelos poros
pelos sentidos todos
pelo silêncio ainda mais.
Nem sempre estar em silêncio é estar sozinho.

Amizade e Palavrão (Crônica)

Maria Ribeiro

Se me conhecesse saberia que não aprecio os palavrões
mais por uma questão estética do que propriamente moral. 
(e até digo: infelizmente!)
Saberia que apesar disso, nas descontrações entre pessoas 
que considero muito íntimas, 
corro o risco de tê-los saltando da boca,
numa entrega profunda que só acontece nas conversas 
entre pessoas que se querem bem.
É como se fosse o ato de espreguiçar
ou de bocejar sem constrangimento.
Porque as pessoas íntimas conhecem nossos desejos
e sabem compreender nossos momentos infelizes até melhor que nós mesmos.
Mas às vezes muito nos enganamos:
julgamos próximos demais aqueles que na verdade estão distantes,
que não perceberam que os anos e as histórias se entrelaçaram
se fazendo quase uma só coisa.
E aproveito o instante para refletir comigo mesma sobre o palavrão.
Peço licença aos prováveis leitores para o monólogo, e, cuidado: 
posso me descontrair...
Afinal, quando um palavrão pode ofender?
Em que circunstância uma destas "palavras feias"(?)
sugere momento desenvolto
baixeza de conduta
fraqueza de caráter
ou sentimento antissocial?
"Ah", dirão alguns, "mas o palavrão não pode ser dito 
nem a qualquer hora, nem em qualquer lugar"
e serei a primeira a concordar com a ideia.
Porque sabemos que o mundo é hipócrita
e as pessoas preferem as ilusões
a ponto de absterem-se de conhecer a face inteira das outras.
Parece um pecado mortal que alguém diga algo julgado socialmente imoral
seja porque dói nos ouvidos
seja porque fere um orgulho.
E para não contrariar nem ferir suscetibilidades
seria preferível se limitar apenas nas belas expressões
ainda que não sejam verdadeiras... e isto é um pouco lamentável.
Uma pena que todos estes anos foram insuficientes
para que se fizesse um conhecimento completo um do outro.
Sim! também eu me surpreendi com sua decepção.
Talvez você acredite que a intelectualidade esteja condensada 
em palavras difíceis e até ininteligíveis.
Mas a verdade é que muitas vezes estas estão
embelezadas por adjetivos vazios e predicados incoerentes
(mas falo das entrelinhas).
E assim, de agora em diante, saiba que fiz um falso juízo de ti:
seria capaz de jurar que era um amigo muito próximo
e que tinha a liberdade de espreguiçar na sua frente.




segunda-feira, 20 de abril de 2015

Voo para o encontro

Maria Ribeiro

Nem sei de verdade o que é amor
mas sei o que amor não é:
impaciência, intromissão, indelicadeza.

Acho que existem dois tipos de sentimentos:
o alegre e o triste.

O amor é um sentimento alegre
e seus opositores, tristes.
Sua natureza mesma é a pressa, a ansiedade gostosa.

Eu queria ser uma ave agora.

Tristeza

Maria Ribeiro

O amor não dói - ele consola
O que dói é a ausência do Ser amado
é uma amargura que caminha do tórax à pelve
é um desconforto contínuo que nenhuma piada pode pôr fim
é um mal estar perene, silencioso e devastador
é uma angústia profunda, dilacerante, inquietante
e o mais cruel é que tudo isto é
franco, existente, real.
Não podia ser apenas uma suposição
uma hipótese, uma ilusão?

Não caibo em mim de falta de você

Eu queria ser uma mentira
Mentiras nunca ficam em carne viva.

terça-feira, 17 de março de 2015

Um curativo

Maria Ribeiro

Queria falar do meu amor
que é uma coisa que sinto grande demais aqui dentro
assim, um negócio gigante, que me faz questionar
a dimensão dos espaços
se existem mesmo
se delimitam as coisas, não delimitam a amor
então o amor não é grande nem pequeno
Ele é.

Fico pensando no amor que tenho por ti
imagino a possibilidade de fazer-te algum bem
então eu queria que meu amor fosse como um band-aid
para que possas colocar nalguma ferida que tenhas.


quinta-feira, 12 de março de 2015

Cada momento é eterno

Maria Ribeiro

Cada momento é único, e são tantos os momentos...
Somados, tornam-se uma eternidade
Nossa feliz eternidade!

Intróito

Maria Ribeiro

Podia ser que as coisas que são não fossem...
E, não sendo, as coisas que são, talvez seriam.
Assim nada seria ao mesmo tempo que tudo era.

Mas já que as coisas que não deveriam ser, são
Que as que não são, sejam
Assim, o que não era passa a ser
Deixando o que não é continuar não sendo.

A dificuldade é que o que não é teima em ser
E acaba sendo sem ser o que nunca foi
Fazendo o que é se passar por não ser
Mesmo sendo o que sempre foi.